Andrea Prestes Institute

Como diretora hospitalar tive a oportunidade de conduzir importantes projetos de melhoria em diversas áreas por meio do Lean Healthcare. Esta prática, aliada à teoria adquirida por meio da formação em Master Black Belt em Lean Six Sigma, contribuiu muito com a construção de uma visão ampliada sobre o tema. O foco em todos os projetos foi na eliminação dos desperdícios e maior agregação de valor. As implantações previam a integração das pessoas, por meio de uma comunicação clara e assertiva, buscando o envolvimento e adesão dos participantes.

A clareza e o foco são fatores fundamentais aos trabalhos para a melhoria da performance dos processos, para a ampliação da capacidade produtiva. Devem ser acompanhados de métricas claras e o desenho do caminho a ser seguido. Estes são pontos importantes aos projetos Lean Healthcare que podem, por exemplo, ajudar a organização a melhorar o volume de atendimentos, com um custo compatível e com a qualidade e segurança almejada.

Hoje, quando falo aos gestores hospitalares sobre a aplicabilidade do Lean nos hospitais e os resultados possíveis de se alcançar, percebo que uma das maiores dúvidas é em saber se o Lean pode ajudar o hospital a reduzir custos. A resposta é: sim, pode ajudar e muito!

Sei que os profissionais “puristas” do Lean Healthcare, ou aqueles que não tiveram a oportunidade de atuar como gestor hospitalar, não gostam de associar o Lean com a redução de custos. Podem ter dificuldade de fazer esta associação direta e falar sobre o tema, por não terem tido a oportunidade de viver a gestão na prática dentro de um hospital. Por vezes para os especialistas Lean, é mais difícil perceber que boa parte do trabalho da administração em saúde está direcionada a encontrar alternativas, diante de um cenário com recursos cada vez mais restritos em descompasso com a demanda crescente por cuidados de saúde com qualidade.

Esse desafio de compatibilizar as “contas” não é particularidade dos gestores hospitalares do Brasil. Tem sido uma realidade e um grande desafio para boa parte destes profissionais dos demais países a nível mundial. São diversos os fatores que ocasionam o aumento dos custos, ao mesmo tempo em que as restrições orçamentárias são cada vez maiores.

Encontrar maneiras para reduzir os custos consome boa parte das horas de trabalho dos gestores hospitalares, e as vezes, das horas de sono. O desafio do gestor vai muito além do equilíbrio orçamentário momentâneo. É necessário que as ações sejam devidamente adequadas e consistam em melhores entregas. Perpassa a criação de um ambiente de trabalho onde a qualidade é buscada para além do desfecho clínico, onde o foco de custo-efetividade com a agregação de valor esteja sempre presente e que as ações implementadas ampliem a segurança dos pacientes.

Não se trata de algo simples e rápido. É aí que o Lean Healthcare pode ajudar e muito! O Lean pode se tornar um importante contributo aos gestores hospitalares, a partir do momento em que conseguirem compreender a sua principal essência. Com este entendimento é mais provável que consigam conduzir de maneira mais assertiva o processo de implantação.

Na prática significa dizer que o Lean Healthcare proporciona uma forma diferente de encarar os custos por não olhar diretamente para eles, visto que ao implementar a metodologia Lean o foco das ações são centradas em reduzir o desperdício em vez de reduzir custos, o que possibilita que todos os profissionais envolvidos passem a enxergá-los de forma mais clara nos processos trabalhados e com o tempo, em todo o sistema.

O Lean Healthcare é capaz de contribuir para uma maior eficiência nos custos da operação, ofertando ganhos substanciais para que a organização, por meio das pessoas, direcione esforços na melhoria dos processos, ao trabalharem na eliminação dos desperdícios na execução da rotina diária, o que oportuniza o desenvolvimento de uma cultura de qualidade, formando um ciclo virtuoso de melhoria contínua.

O foco das pessoas na condução das análises de melhoria passa a ser no valor que entregam aos pacientes. A partir do desenvolvimento da mentalidade do pensamento enxuto, os profissionais se tornam capazes de avaliar seus processos com maior clareza e eficiência, o que oportuniza um menor esforço, promove a racionalização (em vez da contenção) no uso dos recursos, que decorre em ganhos maiores e sustentáveis em longo prazo para o hospital.

É esperado que o gestor hospitalar ao decidir pelo uso do Lean Healthcare no hospital que administra, seja capaz de compreender que deu o primeiro passo para a “jornada Lean”. É primordial que principalmente as lideranças máximas da instituição, sejam capazes de compreender que as ferramentas, os métodos, as metas e os controles, são nada mais do que suportes necessários, mas que não trarão efeito sustentável se não bem utilizadas pelos profissionais. Todo esse arsenal de suporte só trará resultados positivos se somados à valorização do fator humano da organização. As pessoas devem ser valorizadas, desenvolvidas e empoderadas por meio da aprendizagem contínua, conduzidas por uma liderança forte e capaz. Este é o caminho para o início da mudança da cultura organizacional, capaz de promover ciclos contínuos de melhoria e garantir a sustentabilidade organizacional tão desejada.

 

Fonte: PRESTES, A.  Lean em Saúde. In:  PRESTES, A.  et al.  (Eds.).  Manual do Gestor Hospitalar Volume 2. Brasília: FBH, 2020. Manual do Gestor Hospitalar

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